Condroblastoma
O condroblastoma é uma neoplasia benigna rara que corresponde a aproximadamente 1,8% de todos os tumores ósseos. Este tipo de tumor tem preferência pela epífise dos ossos longos e geralmente se manifesta como uma lesão de rarefação óssea, com focos de calcificação. É mais comum em pacientes do sexo masculino, ocorrendo tipicamente durante a primeira e segunda décadas de vida, quando a placa de crescimento ainda está aberta.
Descrito inicialmente por Codman em 1931, o condroblastoma foi inicialmente associado ao “tumor de células gigantes calcificado” do úmero proximal. No entanto, estudos posteriores mostraram que se tratava de uma entidade tumoral distinta do tumor gigantocelular (TGC).
Devido à sua localização intra-articular, o condroblastoma pode apresentar sintomas semelhantes aos da artrite. Além disso, pode demonstrar agressividade local, causando erosão da cortical óssea, da placa de crescimento e invasão articular. Frequentemente, áreas de cistos ósseos aneurismáticos podem estar associadas a manifestações radiográficas de agressividade local.
O tratamento do condroblastoma geralmente envolve a curetagem intralesional seguida de adjuvantes locais, como fenol, eletrotermia ou nitrogênio líquido, além da colocação de enxerto ósseo autólogo ou cimento de polimetilmetacrilato. Em casos mais avançados, pode ser necessária a ressecção segmentar seguida de reconstrução com prótese ou artrodese em casos recidivados ou muito avançados.
O prognóstico do condroblastoma pode ser reservado devido ao risco de recidiva local e às possíveis complicações ortopédicas, incluindo degeneração articular e déficit de crescimento.
Embora raramente, o condroblastoma pode levar a metástases pulmonares com histologia semelhante à do tumor benigno, sem apresentar atipias. O tratamento para essas metástases pode ser o acompanhamento clínico e de imagens e se a observação indicar evolução pode se fazer necessária a exérese cirúrgica.
Em resumo, o condroblastoma é uma neoplasia óssea benigna que, embora rara, requer atenção cuidadosa devido à seu potencial de agressividade local e possíveis complicações a longo prazo. O diagnóstico precoce e o tratamento adequado são essenciais para garantir o melhor prognóstico possível para os pacientes afetados.
veja o caso de Condroblastoma do Fêmur.
Autor : Prof. Dr. Pedro Péricles Ribeiro Baptista
Oncocirurgia Ortopédica do Instituto do Câncer Dr. Arnaldo Vieira de Carvalho
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Osteossarcoma de Superfície
Aspectos Clínicos, Diagnóstico e Tratamento
O osteossarcoma de superfície, também conhecido como paraosteal ou justa-cortical, é uma forma específica desse tipo de tumor ósseo que se origina na superfície externa do osso, sem envolvimento da medula óssea. Nesse tipo de lesão, a zona de crescimento do tumor é visível na superfície óssea, indicando uma região mais imatura do osso. O osteossarcoma de superfície pode apresentar duas representações histológicas distintas:
– Baixo Grau: Caracteriza-se pela ausência quase completa de mitoses atípicas e assemelha-se morfologicamente ao osso maduro. O diagnóstico geralmente é confirmado por meio de avaliação clínica e exames de imagem.
– Alto Grau (“High Grade”): Possui características clínicas semelhantes, porém exibe atipias e um padrão polimórfico de neoplasia imatura.
Clinicamente, o osteossarcoma de superfície geralmente apresenta uma evolução lenta e tende a incidir em indivíduos na terceira e quarta década de vida. As localizações mais comuns incluem a região metafisária posterior e distal do fêmur, cavo poplíteo, úmero proximal e rádio distal.
Radiologicamente, essa forma de osteossarcoma é caracterizada por uma lesão densa de neoformação óssea tumoral, com sua base em continuidade com a cortical do osso afetado. A superfície da lesão pode apresentar uma camada cartilaginosa, representando a zona mais imatura do tumor.
Um dos principais diagnósticos diferenciais é a miosite ossificante, que exibe uma área central imatura na lesão, enquanto a periferia é mais madura e calcificada.
O tratamento do osteossarcoma de superfície de baixo grau geralmente envolve a ressecção oncológica da lesão, podendo ser parcial, parietal ou segmentar, seguida de reconstrução com enxerto ósseo autólogo ou endoprótese. Já o osteossarcoma de alto grau é tratado de maneira semelhante ao osteossarcoma central, com protocolos que incluem quimioterapia, cirurgia e, em seguida, quimioterapia adjuvante.
Em resumo, compreender os aspectos clínicos, diagnósticos e terapêuticos do osteossarcoma de superfície é crucial para garantir uma abordagem eficaz e personalizada para cada paciente, visando sempre alcançar os melhores resultados clínicos e boa qualidade de vida.
Osteocondroma
Diagnóstico e Tratamento
O osteocondroma, também conhecido como exostose osteo-cartilaginosa, representa a lesão óssea benigna mais comum, embora sua incidência possa ser ainda maior do que a relatada na literatura devido a muitos pacientes apresentarem osteocondromas assintomáticos.
Essa condição geralmente se desenvolve nas primeiras e segundas décadas de vida, localizando-se na região metafisária dos ossos longos. Radiograficamente, caracteriza-se por apresentar um tumor composto de cartilagem e osso. Uma característica distintiva é que o osso esponjoso central da exostose se continua com a medular do osso afetado, enquanto a camada cortical densa do tumor se continua com a cortical normal do osso. Na superfície da lesão, há uma faixa de cartilagem, pela qual o crescimento da lesão ocorre, daí o nome “osteocondroma” – tumor formador de cartilagem e osso.
Os osteocondromas podem se apresentar como bases séssil (com base alargada) ou pediculada. Podem ser únicos ou múltiplos, caracterizando a osteocondromatose múltipla hereditária.
O tratamento padrão para osteocondromas é cirúrgico, geralmente envolvendo a ressecção, especialmente quando a lesão compromete a estética, comprime estrutura vascular, nervosa ou limita a função. É importante ressaltar que esses tumores geralmente continuam a crescer enquanto o paciente está em fase de crescimento.
Quando um osteocondroma aumenta de tamanho após a maturidade esquelética, isso pode indicar bursite pós-traumática ou, mais preocupantemente, malignização para condrossarcoma, o que exige ressecção com margens oncológicas.
O risco de malignização é baixo, com osteocondromas solitários apresentando uma taxa de malignização de cerca de 1%, enquanto a osteocondromatose múltipla pode chegar a 10%.
Em resumo, o entendimento abrangente das características, diagnóstico e tratamento do osteocondroma é essencial para garantir uma abordagem terapêutica eficaz e apropriada, visando sempre o bem-estar e a qualidade de vida do paciente.
Metástases Ósseas
As metástases ósseas surgem como uma das complicações mais comuns em pacientes com câncer, representando uma importante questão médica. Isso se deve em parte à capacidade do osso de atuar como um filtro para células tumorais circulantes. Assim como o pulmão e o fígado, o tecido esquelético tem o potencial de abrigar células metastáticas, especialmente devido à sua circulação sinusoidal mais lenta.
Com o avanço dos métodos de diagnóstico e tratamento do câncer, observamos um aumento na sobrevida dos pacientes. No entanto, isso também significa que mais indivíduos acabam desenvolvendo metástases ósseas, com tumores como o de mama, próstata, pulmão, rim e tireoide sendo os principais responsáveis por essas disseminações no esqueleto.
As manifestações clínicas das metástases ósseas frequentemente envolvem dor e, em alguns casos, podem levar a fraturas patológicas, comprometendo significativamente a qualidade de vida do paciente. Nessas situações, a intervenção cirúrgica ortopédica se torna essencial para aliviar a dor, restaurar a função e evitar complicações graves.
Os locais mais comuns para essas lesões incluem fêmur, úmero, vértebras, pelve, escápula e tíbia. A abordagem terapêutica geralmente envolve cirurgias de ressecção e reconstrução, utilizando técnicas como osteossíntese com cimento ou implantes de endopróteses. Em alguns casos, a radioterapia pode ser empregada como medida paliativa para aliviar a dor em pacientes que não são candidatos à cirurgia.
No contexto do mieloma múltiplo, um dos tumores ósseos primários mais comuns, o tratamento geralmente envolve quimioterapia e, em certos casos, radioterapia. No entanto, quando as lesões ósseas se tornam significativas ou apresentam risco de fratura, a abordagem cirúrgica ortopédica segue os mesmos princípios adotados para as metástases ósseas de outros tipos de câncer.
Em resumo, o manejo das metástases ósseas exige uma abordagem multidisciplinar, envolvendo oncologistas, cirurgiões ortopédicos e radioterapeutas, com o objetivo de proporcionar alívio da dor, preservar a função e melhorar a qualidade de vida dos pacientes afetados por essa complicação do câncer.
Fraturas Patológicas em Crianças
A terminologia “fratura patológica” frequentemente utilizada pode induzir a uma interpretação inadequada, uma vez que a fratura em si não é patológica, mas sim o osso, que pode apresentar diversas alterações estruturais, metabólicas, displásicas, entre outras. Portanto, é mais apropriado discutir as fraturas que ocorrem em crianças com alterações ósseas pré-existentes.
A amplitude desse tema requer uma delimitação dos tópicos a serem abordados. Fraturas em crianças decorrentes de processos infecciosos ou distúrbios metabólicos, como raquitismo e osteopsatirose, não serão discutidas aqui. Nosso foco será nas fraturas de estresse, no diagnóstico diferencial e nas fraturas resultantes de lesões ósseas tumorais ou pseudo-tumorais pré-existentes.
Dentre as lesões tumorais benignas mais comuns na infância que podem levar a fraturas, destacam-se o osteoblastoma e o condroblastoma. O osteoblastoma, localizado na metáfise dos ossos longos, inicialmente cortical excêntrica, é localmente agressivo, causando microfraturas devido à erosão da cortical óssea. A progressiva destruição da cortical pode levar a fraturas completas, facilitando a disseminação local e complicando o tratamento oncológico. Já o condroblastoma afeta a região epifisária dos ossos longos em crescimento e pode levar a quadros de artralgia e deformidade.
O tratamento para essas lesões benignas é cirúrgico, preferencialmente realizado o mais breve possível para evitar a progressão da destruição óssea local. A ressecção segmentar é a melhor indicação para evitar recorrências locais. No entanto, a localização articular do condroblastoma exige uma abordagem cirúrgica específica, seguida de adjuvantes locais e, quando necessário, enxerto ósseo.
As neoplasias ósseas malignas mais comuns na infância, como o osteossarcoma e o sarcoma de Ewing, requerem diagnóstico precoce e tratamento imediato. Em casos de fraturas ao diagnóstico, o controle oncológico local pode demandar cirurgias ablativas, como a giroplastia de Van-Ness, que altera a função articular e exige suporte psicológico ao paciente.
Além das neoplasias malignas, as fraturas em crianças podem estar associadas a lesões pseudo-tumorais, como o cisto ósseo simples, o cisto ósseo aneurismático, a displasia fibrosa e o granuloma eosinófilo. O tratamento varia de acordo com a lesão e pode envolver ressecção, curetagem intralesional e preenchimento com enxerto ósseo autólogo.
Em resumo, as fraturas em crianças associadas a lesões ósseas tumorais ou pseudo-tumorais pré-existentes requerem uma abordagem multidisciplinar e um plano de tratamento individualizado, considerando a localização, extensão e características da lesão, bem como o estado geral do paciente. O diagnóstico precoce e o tratamento adequado são essenciais para prevenir complicações e garantir uma boa recuperação funcional.
Fratura em Osso Patológico
Aspectos Clínicos, Diagnóstico e Classificação
Em nossa experiência dedicada ao estudo e tratamento de pacientes com doenças ósseas, nos deparamos repetidamente com casos de fraturas que, por sua vez, ocultavam condições patológicas subjacentes previamente não diagnosticadas. A designação simplificada de “fratura patológica” pode ser inadequada, uma vez que toda fratura é, de fato, um processo patológico. Nesse sentido, é mais apropriado empregar a terminologia “fratura em osso patológico”, que muitas vezes está associada a neoplasias, sejam elas primárias ou metastáticas.
Os processos patológicos que podem culminar em fraturas são variados e abrangem desde displasias ósseas até distúrbios circulatórios, passando por alterações degenerativas, inflamatórias, infecciosas ou neoplásicas. Para um diagnóstico preciso, é essencial considerar os aspectos clínicos do paciente, o mecanismo da fratura, os resultados de exames de imagem, testes laboratoriais e achados anatomopatológicos.
As fraturas ósseas que mascaram condições patológicas subjacentes podem resultar em intervenções ortopédicas inadequadas, ressaltando a importância de uma abordagem diagnóstica meticulosa.
Classificaremos de maneira didática, dentro dos cinco capítulos da Patologia Geral, os diversos distúrbios ósseos subjacentes:
- Displasias Ósseas: Estas alterações englobam distúrbios congênitos ou hereditários que afetam a morfologia óssea, podendo resultar em deformidades e/ou fraturas. Destacamos, entre outras, a osteogênese imperfeita, a osteopetrose e a displasia fibrosa, cada uma com suas características clínicas e radiológicas distintas.
- Alterações Metabólicas: O equilíbrio entre os processos de formação e reabsorção óssea é fundamental para a manutenção da estrutura óssea. Distúrbios como osteoporose, osteomalácia e hiperparatireoidismo podem levar a uma diminuição da densidade óssea, aumentando o risco de fraturas.
- Doenças Degenerativas: Incluem condições como as histiocitoses de células de Langerhans e as lipidoses, que podem comprometer a estrutura e a integridade dos ossos, predispondo à ocorrência de fraturas.
- Distúrbios Circulatórios: A doença de Paget é um exemplo significativo, caracterizada por uma remodelação óssea anormal devido a distúrbios circulatórios intraósseos, podendo resultar em fraturas espontâneas ou por trauma leve.
- Discrasias Sanguíneas: Em casos raros, distúrbios sanguíneos como a leucemia ou anemias hemolíticas podem causar extensos infartos ósseos, aumentando o risco de fraturas em ossos patológicos.
Em resumo, compreender a relação entre fraturas e condições patológicas subjacentes é crucial para garantir uma abordagem terapêutica adequada e minimizar complicações. Um diagnóstico preciso e uma classificação apropriada das condições subjacentes são fundamentais para orientar o tratamento e melhorar os resultados clínicos dos pacientes.
Condroma
O condroma é um tumor benigno que se desenvolve a partir de células da cartilagem, tendo como principais locais de ocorrência os ossos curtos das mãos e dos pés. Geralmente, pode apresentar-se como uma lesão solitária ou, em alguns casos, afetar múltiplos ossos, caracterizando o que é conhecido como encondromatose.
A encondromatose unilateral, por sua vez, é uma forma de discondroplasia que recebe o nome de doença de Ollier. Já a Síndrome de Maffucci é caracterizada pela presença de múltiplos encondromas associados a hemangiomas.
Embora o condroma tenha sua predileção nos ossos curtos, ocasionalmente pode ser encontrado em ossos longos, como o fêmur distal, o úmero proximal e a tíbia. Nessas localizações, é importante fazer o diagnóstico diferencial com outras condições, como o infarto ósseo, que geralmente é assintomático e pode ser identificado por achados radiográficos, e o condrossarcoma central grau I, que é sintomático evolui lentamente com o tempo e causa erosão na cortical interna do osso, cada vez maior.
Diferenciar histologicamente entre condroma e condrossarcoma grau I pode ser desafiador, sendo preferível uma abordagem de observação clínica e radiográfica para determinar a conduta adequada, visto que o condrossarcoma grau I é de lenta evolução, o que permite a observação em curtos espaços de tempo, três a seis meses, realizando exames de imagem. Caso ocorra alteração, com piora das imagens, a lesão deve ser considerada como condrossarcoma grau I e tratada como tal. O diagnóstico histológico nesta neoplasia é controverso.
Radiograficamente, o condroma é caracterizado por uma lesão de rarefação, ocasionalmente com focos de calcificação, podendo resultar em deformidades ósseas.
O tratamento do condroma assintomático, descoberto por acaso, pode ser apenas a observação, pois geralmente não evolui e comporta-se como uma cicatriz, sendo apenas um achado de exame. A curetagem de um “condroma”, que na realidade tratava-se de um condrossarcoma grau I, pode levar a disseminação do tumor dificultando a cirurgia correta de ressecção com margem oncológica.
Quando o condroma afeta a superfície externa dos ossos, é denominado condroma justa-cortical e geralmente requer tratamento cirúrgico por meio de ressecção parcial parietal.
O condroma é um tumor benigno de cartilagem, geralmente inofensivo, mas que requer acompanhamento e, em alguns poucos casos, caso haja evolução, com aumento da lesão, há a necessidade de intervenção cirúrgica, com ressecção do tumor com margem oncológica, para garantir o melhor resultado para o paciente, evitando recidivas.
O acompanhamento clínico, do paciente sem sintomas, deve ser feito com imagens aos 3 meses, 6 meses e posteriormente a cada ano para o diagnóstico precoce e o tratamento adequado e a tempo de um eventual condrossarcoma grau I, permitindo que esta lesão seja tratada da forma correta e em bom tempo.