Lesões Pseudo Tumorais – Cisto Ósseo Simples, Cisto Aneurismático e Fibroma não Ossificante:
Quanto às lesões pseudo-neoplásicas, a que mais freqüentemente causa fratura é o cisto ósseo aneurismático. Este processo, de etiologia desconhecida, que não tem aspecto cístico e muito menos é de natureza vascular, é conhecido como a lesão benigna que mais tem comportamento agressivo, muitas vezes simulando neoplasias malignas.
Outras lesões pseudo-neoplásicas que podem fraturar são o cisto ósseo simples de localização metafisária, quando em osso de maior carga como fêmur e tíbia, é passível de fratura. O fibroma não ossificante, evolução do defeito fibroso metafisário cortical, também pode fraturar em virtude de seu progressivo aumento de volume, quando situado na metáfise do fêmur ou da tíbia.
Não raramente fraturas ósseas simples ou complexas ocultam alterações patológicas podendo resultar em tratamento ortopédico inadequado.
Para o tratamento das fraturas em osso patológico é preciso estudar todo o contexto que as envolve. As fraturas ósseas devem ser analisadas sempre sob aspectos multidisciplinares, que levem em consideração a história, a faixa etária dos pacientes, os aspectos clínicos, de imagens, exames de laboratório e exame anatomopatológico. O estudo conjunto multidisciplinar destes dados é indispensável para o diagnóstico e conduta em cada caso. Com o diagnóstico correto o ortopedista vai definir o tratamento. Seguindo o descrito neste capítulo:
Displasias Ósseas:
1 – Osteopsatirose ou Osteogênese imperfeita.
Tratamento: Clínico: O emprego de bisfosfonados é utilizado atualmente.
Ortopédico: osteossínteses intramedulares de suporte para o crescimento alinhado, com hastes telescopadas, associadas ou não a osteotomias para correção de deformidades.
2 – Osteopetrose
Tratamento: Clínico: Prevenção de deformidades
Ortopédico: osteossínteses das fraturas
3 – Displasia fibrosa, mono ou poliostótica,
Tratamento: Clínico: O emprego de bisfosfonados pode ter efeito.
Ortopédico: osteossínteses
Alterações Metabólicas:
1 – Osteoporose
Tratamento: Clínico: prevenção de fraturas, evitar a cafeína, caminhar. O emprego de bisfosfonados pode ser indicado.
Ortopédico: osteossínteses das fraturas
2 – Osteomalacia e raquitismo
Tratamento: Clínico: Correção da homeostase, vitamina D, prevenção de deformidades.
Ortopédico: osteossínteses das fraturas.
3 – Hiperparatireoidismo
Tratamento: Clínico: ressecção do tumor da paratireóide e compensação do quadro metabólico, atendendo à hipocalcemia acentuada que ocorre após a cirurgia, pois o tecido ósseo passa a compensar rapidamente a desmineralização óssea que havia. Aporte protéico é indispensável, para a elaboração da matriz óssea.
Ortopédico: osteossínteses das fraturas, que se consolidam rapidamente, pois o osso esta ávido de cálcio.
Doenças Degenerativas:
1 – Granuloma eosinófilo
Tratamento: Clínico: córticoterapia
Ortopédico: curetagem da lesão óssea. Na vértebra plana de Calvé a própria fratura acunhamento leva a cura do processo. Na criança e no adolescente ocorre o crescimento espontâneo do corpo vertebral, corrigindo a deformidade.
2 – Doença de Gaucher
Tratamento: Clínico:
Ortopédico:
Disturbios circulatórios:
1 – Doença de Paget
Tratamento: Clínico: Bisfosfonados e antiinflamatórios.
Ortopédico: osteossínteses das fraturas
2 – Nas discrasias sanguíneas
Tratamento: Clínico:
Ortopédico:
Inflamações:
1 – A osteomielite hematogênica
Tratamento: Clínico: antibioticoterapia
Ortopédico: drenagem de abscessos, remoção de seqüestros ósseos e estabilização das fraturas.
2 – A tuberculose
Tratamento: Clínico: esquema tríplice para a tuberculose.
Ortopédico: limpeza dos abscessos caseosos e imobilização, sendo muitas vezes indicada a artrodese das articulações afetadas e osteossínteses das fraturas.
3 – A Blastomicose Sul Americana, cujo agente é o paracoccidioidis brasiliensis e
Tratamento: Clínico: tratamento medicamentoso específico para a micose
Ortopédico: limpeza cirúrgica e cuidados específicos para cada caso.
4 – A Echinococose, sob a forma de cisto hidático, deve ter tratamento cirúrgico.
Neoplasias:
1 – Primitivas benignas: O tratamento ortopédico pode ser de curetagem intralesional, adjuvante local, reconstrução com osteossíntese e enxerto autólogo ou metilmetacrilato.
2 – Primitivas Malignas: Pode necessitar de tratamento quimioterápico orientado para a neoplasia e tratamento cirúrgico de ressecção e reconstrução com endopróteses ou reconstrução biológica, se for possível, ou cirurgia ablativa.
3 – Secundárias à metástases: Restabelecer a função é primordial para a qualidade de vida do paciente. A opção do tratamento destas fraturas requer algumas ponderações para a escolha adequada a cada paciente. Algumas delas são subjetivas, pois temos que supor um tempo provável de sobrevivência do paciente, possibilidade clínica de que volte a recuperar plenamente suas funções, capacidade de suportar anestesia, etc.
Procuramos apoiar nossas decisões nos seguintes parâmetros:
- A lesão é no membro superior, inferior, cintura pélvica ou coluna vertebral?
- A lesão é única ou são múltiplas lesões?
- Já ocorreu a fratura ou há risco de fratura?
- Se não ocorreu fratura, já há comprometimento de 1/3 da circunferência do osso? A lesão abrange uma extensão longa?
- O paciente caminhava antes da fratura, possuía função motora normal?
- Há quanto tempo o paciente faz tratamento da doença primária?
- Encontra-se atualmente recebendo tratamento quimioterápico?
- Qual é o prognóstico temporal deste paciente?
- Quais são as co-morbidades que apresenta além da neoplasia?
- O tipo da neoplasia primária responde à radioterapia
A análise destas questões vai permitir uma decisão terapêutica que atenda o paciente, na recuperação de sua função motora, em consonância com o tratamento de sua doença de base.
Os pacientes portadores de mieloma apresentam alto índice de infecções pós- operatórias e costumam beneficiar-se com a radioterapia local, principalmente nas lesões da coluna torácica ou do membro superior, nos primeiros anos de doença. Após alguns anos, quando a doença se torna refratária à quimioterapia ou ao transplante de medula até a opção cirúrgica fica limitada devido à intensidade do comprometimento ósseo.
Este caso das figuras 8 à 12, exemplifica um paciente portador de mieloma múltiplo, apresentando uma lesão extensa na metade proximal do úmero direito. Apesar de tratar-se de mieloma, que responde bem à quimioterapia e radioterapia e mesmo no membro superior, há indicação de ressecção da lesão e reconstrução com endoprótese não convencional devido à destruição da anatomia e propiciando o pronto restabelecimento da função.