Metástase de Sarcoma de Tecidos Moles no Osso Esterno
Metástase De Sarcoma No Esterno. Paciente com dor e tumor na face medial da coxa direita, acometendo os tecidos moles. O melhor exame de imagem para avaliar lesões nos tecidos moles é a ressonância magnética (Rm). Este exame revelou a presença de lesão sólida de aproximadamente 5,5 cm por 7,0 cm, dentro da musculatura adutora da coxa (Figuras 5, 6, 7, e 8).
Com este quadro clínico e de imagem temos que responder ao seguinte questionamento:
1- Realizar a biópsia, ou a ressecção biópsia, já que neste caso é possível a exerese da lesão com margem oncológica, sem alteração da função ?
2- Caso o resultado da biópsia informe lesão sem atipias, fibroxantoma por exemplo, mudaria a resseção cirúrgica ? Seria uma ressecção mais econômica ? Mesmo com as características destas imagens, já que a biópsia é apenas uma pequena amostra da lesão ?
Para nós a conduta não pode mudar. A ressecção deve ser feita com margem oncológica neste caso. A biópsia é realizada com o propósito de, se confirmar tratar-se de sarcoma, orientar a terapêutica neoadjuvante.
3- Que tipo de biópsia realizar ? Com agulha de Tru-cut ? Incisional ? Com diagnóstico por congelação e conduta ?
O melhor é sempre fazer a biópsia das lesões dos tecidos moles com agulha de tru-cut, guiadas por ultrassonografia e anatomia patológica de congelação, para validar o material colhido. A conduta de ressecção dependerá de cada caso, podendo ser realizada nos casos em que a margem oncológica é possível, sem perda funcional. Caso contrário deve-se aguardar o resultado final do exame anátomo patológico, inclusive da imunohistoquímica, quando for necessária.
Neste caso o diagnóstico foi de sarcoma de alto grau, na congelação e como a ressecção com margem era possível, a cirurgia foi realizada nesta mesma anestesia (Figuras 9 e 10). Podemos observar o aspecto histológico deste tumos (Figuras 11, 12 e 13).
A radioterapia adjuvante foi iniciada na cirurgia com a colocação dos cateteres para a braquiterapia. Estes cateters são passados através de uma agulha com diâmetro tubular suficiente. Os cateteres são passados e fixados com uma presilha de plástico (Figuras 14 e 15). Posteriormente retira-se os cateteres e complemeta-se com radioterapia externa. A figura 16 mostra o aspecto local após o tratamento.
O caso foi discutido em equipe multidisciplinar que optou por não realizar quimioterapia adjuvante, já que a relação de possíveis benefícios com os efeitos colaterais não eram favoráveis, pesando ainda o fato que esta não aumenta a sobrevivência global, Lancet 19971.
Na avaliação de controle, passados quatro anos e três meses, a paciente referiu abaulamento e dor no esterno. A radiografia, em perfil, destaca a presença de lesão na porção distal do esterno (Figuras 17 e 18). A cintilografia óssea realizada para o estadiamento esquelético revelou lesão única, com intensa captação nesta região (Figuras 19 e 20).
Com a história clínica desta doente es estas imagens fizemos o seguinte questionamento:
1- Fazera biópsia desta lesão?
2- O que fazer se recebecemos o diagnóstico de fibrohistiocitoma benigno? ou de Cisto ósseo aneurismático? Qual a conduta? Curetagem? Com o antecedente desta paciente de sarcoma de alto grau? A biópsia é apenas uma amostra, portanto é questionável repetir a biópsia até ter um diagnóstico de lesão maligna nesta doente. Devemos assumir a necessidade de ressecção com margem desta lesão, já que é a conduta oncológica e a ressecção do esterno não causa prejuízo nem estético e nem funcional. Ainda a Quimioterapia neoadjuvante não acrescentaria vantagens para o caso e nem a radioterapia prévia mudaria a necessidade de ressecção da área comprometida.
3- Se vamos ressecar o esterno, por que via de acesso? Qual é a incisão que permite ressecção ampla e mais estética?
Escolhemos a via inframamária, horizontal (Figuras 29, 30, 31, 32 e 33).
Podemos observar a boa hemostasia realizada, que deve ser cuidadosa para dispensar a colocação de dreno e permitir a melhor estética.
4- Como reconstruir esta cavidade? Neste caso não há necessidade de prótese do esterno ou da colocação de placa de cimento rígida. Não ocorre tórax flácido. Realizamos o fechamento da ferida cirúrgica com uma tela de marlex que é flexível e permite a formação de fibrose cicatricial, tamponando a cavidade.
Neste segundo vídeo, observamos a função respiratória normal, uma semana após a cirurgia.
O aspecto estético após três anos e cinco meses da operação (Figura 35).
Este caso foi novamente discutido em reunião multidisciplinar. A radioterapia pós operatória não tinha indicação após o tipo de ressecção em bloco deste caso, nesta localização. A revisão da literatura da época não apontava benefício da quimioterapia x toxicidade e a evidência de sobrevivência global era igual, Cancer 20082. A paciente não recebe tratamento adjuvante.
Após sete anos e oito meses do tratamento do tumor da coxa e passados quatro anos e dois meses da ressecção do esteno, a paciente apresentou metástase na panturrilha direita (Figuras 36 e 37) e o estadiamento revelou lesão na vérteba toráxica, T11 e no retroperitoneo (Figuras 38 e 39).
Estudo randomizado, do ano de 2012, de quimioterapia adjuvante com doxorrubicina e ifosfamida, não mostrou nenhum benefício na sobrevida livre de recidiva e nem na sobrevida global, Lancet3. Na literatura em 2013 ainda é incerto os benefícios da quimioterapia neo adjuvante e adjuvante, UpToDate4.
A quimioterapia para sarcoma de tecidos moles ainda precisa evoluir muito. Os tratamento destes sarcomas, em sua grande maioria, não são individualizados. Sabemos que a quimioterapia para o sarcoma de Ewing é diferente da quimioterapia para o osteossarcoma, por isso temos resultados favoráveis no tratamento destas afecções. Não se pode colocar o grande pool dos sarcomas no mesmo protocolo de tratamento. Assim como os trabalhos sobre o resultado do tratamento deste pool de tumores não permite conclusões. Misturam-se casos que respondem com a maioria que não responde e o quimioterapêuta fica sem parametros. No adulto a toxicicidade é agravada pelas comorbidades e a relação custo/benefício é desfavorável.
A cirurgia ainda é o tratamento primordial para os sarcomas de tecidos moles. A radioterapia tem o seu papel no controle dos sarcomas de alto grau, mas não resgata uma ressecção inadequada. A radioterapia neoadjuvante tem menor complicação para a ferida operatória do que a braquiterapia. A radioterapia adjuvante é recomendada em praticamente todos os casos, fazendo exeção as lesões superficiais, tumores ressecáveis menores do que cinco centímetros e lesões de baixo gráu histológico, UptoDate5.
Referências bibliográficas
1.Adjuvant chemotherapy for localised resectable softt-tissue sarcoma of adults: meta analysis of individual data, Lancet 1997; 350:1647-54
2.Adjuvant and neoadjuvant chemotherapy
3.Local treatment for primary soft tissue sarcoma of the extremities and chest wall
4.Treating soft tissue sarcomas
Autores do caso
Autor : Prof. Dr. Pedro Péricles Ribeiro Baptista
Oncocirurgia Ortopédica do Instituto do Câncer Dr. Arnaldo Vieira de Carvalho
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